sábado

- Não saias! Não te mexas.
- Não te posso beijar?
- Não!
- Nem acariciar-te?
- Não.
- É melhor obedecer-te!
- Sente-me.
- Sinto-te bem?
- Sentes?
- A tua expressão não engana.
- És muito bonito!
- Tu é que és muito bonita.
- Pergunta-me se foi bom.
- Não é preciso perguntar-te se foi bom.
- Posso ter fingido.
- Se fingiste, continua a fazê-lo. Mas se fingiste és muito boa actriz.
- Ou tu um mau espectador.
- Estou tão junto de ti, tão perto de ti, que mal te vejo… Com os olhos.
- O quê?
-Vejo-te mais com o corpo do que com os olhos. Percebes?
- Percebo. Eu tinhas os olhos fechados.
- Eu sei. Lambi-te as pálpebras.
- Ui!
- O que foi?
- Deixa-me libertar esta perna.
- Não posso. Só se sair!
- Não, não saias! … Mas a perna dói-me muito.
- Vamos tentar rodar abraçados.
- Agarra-me bem e leva-me tu.
- Cuidado. Abraça-te a mim para não cairmos do sofá.
- Hmmm!
- Já está. Estás melhor?
- Muito melhor. É diferente ver-te de cima.
- É agradável ver-te de baixo.
- Foi bom?
- O quê?!
- Teres-me dado a volta?

de: António Martinho
em revista: 365 , #27

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